Críticas


O dia em que aprendi a dizer NÃO.
- opinião -

por Lisi Medeiros, artista gaúcha.
Setembro de 2011.

GOSTO do ambiente inóspito, despido de suporte técnico convencional do "Não", da solidão do personagem compartilhada com o público como um garoto que simula um diálogo em frente ao espelho do quarto.

GOSTO da verdade que se revela no fato de que estamos sim, presos em quadrados de concreto, assistindo aos acontecimentos pelas telas dos computadores e pelas tevês com a ilusão de que isso nos faz compreender e conhecer o mundo. Isso tudo é só informação. Só a experiência traz a real compreensão. Na carne do outro, tudo parece óbvio. Só dói, afeta quando a nossa carne sente.

GOSTO do recurso performático, dos objetos não materializados. Mas, visíveis. E dos objetos inusitados ou não esperados tomando sentido, "incomodando". Da trilha interferindo, dialogando, compondo com o ator como impressões energéticas, transmissão de ondas ou os ruídos externos inevitáveis, provocando a estranha sensação de estarmos dentro de uma realidade e não de uma ficção.

GOSTO quando o teatro transforma uma cena cotidiana num questionamento aprofundado sobre nós mesmos. Do ator/personagem hiper exposto à apreciação crítica da platéia. Água ou azeite? Pode ser uma questão de muita relevância dependendo do contexto. É isso. Tudo depende do contexto. E "O dia em que
aprendi a dizer não" nos coloca num contexto e não nos salva dele. Nos obriga a sair do quadrado de concreto, olhar o céu e ter esperança de continuar sem perder a poesia ou NÃO.

Meu carinho sincero aos que tiveram essa inspiração em forma de teatro. Estou satisfeita como quem saboreia um prato cheio de sabores interessantes sem, no entanto, saber com antecedência quais ingredientes o compõe.